Esta semana começou a Grand Slam Poésie, a Copa do Mundo da Poesia, que acontece na França. O escritor e articulador cultural Emerson Alcalde está representando o Brasil, após garantir sua vaga vencendo a competição Slam SP, com ganhadores de todos os Slams de São Paulo.
Somos parceiros e principalmente grande admiradores do trabalho dele e por isso, estamos acompanhando suas jogadas, seus dribles e claro, encantados e admirados com suas rimas.
Descobrimos que o Brasil não é mais o país do futebol, a caneta e a palavra afiada também ganham o mundo e juntam pessoas, a torcida é grande e o Emerson chegou na final, que será amanhã, às 16h00 horário de Brasília. Quem quiser, é possível acompanhar pelo site do evento.
abaixo uma das poesias que foi apresentada aos franceses:
Fim do iluminismo (poesia para a França)
Vocês renasceram e nos descobriram
Nos pegaram sem roupa não falávamos o seu idioma
Tomaram para si nossos tesouros
Natureza, mulheres, ouros
Envelheceram e apodreceram cultura e economicamente
E o que irão fazer? Voltar a explorar o novo mundo?
Mas vocês levaram quase tudo
Diferente do passado
Estamos vestidos iguais a vocês
Falamos o seu inglês, francês.
Lemos os seus livros e dizemos:
Teu Joyce não é melhor que nosso Guimaraes
Vou falar com toda franqueza
Me desculpe a tua revolução foi burguesa
Mas neste lugar apesar dos pesares
ainda tem glamour e elegância
Faz com que muito de nós sonhe
E que fique cego de ganancia
Assim como as companhias de comedia dell’arte italiana
O sonho era chegar em Paris
O sonho de todo menino de pés descalço
é jogar no Barça, Real, Milan, PSG, Chelsea
Ele não estuda se dedica apenas ao futebol
Mas da peneira, que é pouco diferente do tráfico negreiro,
Mas da peneira, que é pouco diferente do tráfico negreiro,
só saem alguns, dentre os milhões
que voltarão a andar com os grilhões
Iludida com renda fácil
O trabalho era dá. De primeira incitei. Chorei. Mas depois dei
Estou presa num hotel dancei pensei em regressar mas fiquei
O sonho de todo travesti é entrar ilegal no teu país pra se prostituir
Estar na pior lá? Prefiro ta bem, merci.
Hoje eu sou o menino, sou a puta, sou o travesti
Aceitei o seu jogo estou aqui
As pernas abertas dentro das suas regras querendo competir
Mais um macaco que veio pra te distrair
No teu estádio, no teu teatro na tua boate
Me deram apenas a bola então tive que roubar a caneta
Rasguei a bola e passei a treinar com a escopeta
Não foi você que explorou não fui eu que sofri
Eu sei, mas eu e
Todos os Latino-americanos pagamos
E você não. Então fecha o bico. Já acabou “A Hora do Show!”
Pediram tanto capital emprestado e não pensaram
Depois tantos pensadores até Antes de Cristo
e Hoje em crise
Pega este troféu
simbolizando as igrejas, os castelos DEVOLVA-NOS
Aquela mesma matéria que de nossas terras foi tirada por escravo
Escravo que hoje faz seus tênis
Que esta retorne à Minas mesmo que Minas não exista mais.
Este troféu será colocado na prateleira do boteco da periferia
ao lado dos times de várzeas
Pois é assim que entendemos o slam.
A poesia oral redigida com sangue
Resignificou o seu aristocrático sarau
E voltou pras ruas pras rodas, fogueiras ao ritual
E se quiser a literatura viva de volta para aí
Terá que vir batalhar aqui
com os espíritos herdeiros
Dos Bantos, dos Incas, dos Maias e dos Guaranis
Praticarei o suicídio se for preciso
mais isso vocês não roubam mais de mim
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